“Sabemos que apoiar a educação é um investimento de longo prazo. Há décadas estamos vendo nossos jovens terem sucesso na busca por um futuro melhor. Alguns escolheram a música como meio de vida, mas muitos outros estão em Bertioga atuando como multiplicadores e semeando o bem”
BEATRIZ PEREIRA DE ALMEIDA, DIRETORA-ADJUNTA DE MARKETING DA SOBLOCO CONSTRUTORA E PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO 10 DE AGOSTO.
As últimas Olimpíadas, ocorridas em Tokyo este ano, revelaram jovens talentos com histórias fantásticas de como chegaram à competição. À arte a superação esportiva, o que chamou a atenção foi a determinação e a disciplina desses atletas que, em muitos casos, tiveram origem humilde e poucos recursos. Grande parte dos atletas que trouxeram medalhas para o Brasil veio de projetos sociais, onde tiveram o primeiro contato com a bola, a raquete, o tatame, a canoa, as luvas e assim por diante.
As artes também são eixos fundamentais para a transformação de vidas. No Brasil e no mundo, muitas personalidades do meio artístico descobriram seus talentos para o teatro, o cinema e a dança nesses espaços inclusivos e democráticos.
Na Riviera de São Lourenço existe um local especial para acolher crianças e adolescentes e apresentá-los a um mundo cheio de sons, cores, sentimentos e vida. Trata-se da Fundação 10 de Agosto, entidade sem fins lucrativos, com 28 anos de existência, que encontrou na educação e na cultura um caminho para transformar a sociedade. Com sede na Riviera de São Lourenço e um polo de atuação no bairro Chácaras, a Fundação faz um investimento continuo em educação e capacitação de crianças, jovens e adultos de Bertioga.
A partir dos 6 anos as crianças começam no curso de musicalização. Com o tempo, escolhem o instrumento que querem aprender.
Enquanto elas se familiarizam com os instrumentos, os educadores enfatizam a importância da dedicação aos estudos, da disciplina, do
trabalho em grupo e estimulam suas habilidades preparando-as para a vida adulta.
Só na área musical, a Fundação 10 de Agosto atende, anualmente, 350 crianças e adolescentes. Além das aulas, o projeto mantém uma orquestra didática e grupos populares e eruditos, que se apresentam em diversos locais, dentro e fora do município de Bertioga.
“O objetivo não é que todos cheguem à orquestra mantida pela Fundação ou se tornem profissionais da música, mas que os alunos, muitos de origem bastante simples, tenham mais oportunidades de acesso à cultura e tenham na entidade um porto seguro para o convívio e o fortalecimento de vínculos”, enfatiza Keila Seidel, diretora da entidade.
O maestro Joel Gonzaga de Oliveira, há 12 anos na Fundação, afirma que a experiência na instituição é única. “Já ouvi de vários alunos: ‘se eu não tivesse vindo para cá, não sei onde eu estaria’. Quando a vida adulta os chama e eles vão embora, fico com o coração partido, porque a gente acaba criando um vínculo”, conta o maestro.
Atendendo a mais de uma geração de alunos, a entidade acumula relatos emocionantes de histórias de vida que foram impactadas por suas atividades. Adultos que a Fundação conheceu ainda crianças testemunham com carinho o quanto a organização foi importante em suas vidas. A seguir, algumas delas.
Ritmo na alma
ANA MUNHOZ
19 ANOS, BATERISTA
“Conheci a Fundação quando eu tinha entre 6 e 7 anos. Já na primeira aula eu me apaixonei pelo ambiente, que é totalmente musical. Sempre gostei de bateria, mas como não tinha esse curso, comecei na percussão e, depois, fui para o violão. Foi muito importante para mim a forma como a instituição me abraçou quando viu que eu tinha um talento diferente. Na época, o professor Elizeu criou a banda F10 e eu ficava na bateria. Nós fazíamos apresentações nos eventos da Riviera.
A Fundação me fez acreditar que era possível me tornar uma profissional na música. Minha participação na banda e na orquestra foi muito importante, porque entrou para o meu currículo. Eu vim morar em São Paulo para tocar em uma banda e já tive a oportunidade de tocar com vários grandes nomes da música gospel que eu escutava quando criança. Hoje tenho quase 14 mil inscritos no YouTube e uns 7 mil seguidores no Instagram – meninas são boa parte deles. Elas me procuram para perguntar como eu lido com o fato de ser menina e tocar bateria, o que ainda é pouco comum.
Eu penso como posso oferecer para as pessoas o que a Fundação me ofereceu e vejo que com a internet eu consigo abordar muita gente.”
De aluno a professor
DEIVID DEODATO
22 ANOS. PROFESSOR DE VIOLÃO, SAXOFONE. CLARINETE, TECLADO E VIOLA DA FUNDACÃO 10 DE AGOSTO
“A Fundação foi como uma segunda casa para mim, porque aqui você não só estuda, mas também se diverte. Eu sentia mais prazer de estar aqui do que na minha própria casa. Quando entrei, já era apaixonado por música e um aluno curioso. Aprendi a tocar saxofone, clarinete, violão, violino, viola, violoncelo, teclado e piano, entre outros instrumentos, porém não imaginava que um dia eu viveria da música.
A Fundação me abriu uma grande porta: tive a oportunidade de me tornar professor e dar aulas e, assim, financiar meus estudos de música na faculdade. Eu saí de um bairro carente e sei que é muito raro ver alguém apresentando um instrumento clássico para crianças da periferia, como a Fundação faz. Fico muito feliz quando vejo um aluno que não conseguia tirar nem uma notinha direito tirar um som limpo.
A música afasta a criança do caminho errado, trabalha o emocional, desenvolve a percepção, a coordenação motora, o raciocínio. Inclusive na escola o desempenho dela melhora. Na Fundação, nosso objetivo vai além de ensinar música. Buscamos preparar a criança para viver em sociedade. Meu desejo é rodar o mundo com a minha música e eu vou levar a Fundação aonde quer que eu vá.”
Sentimentos expressos pela música
MIGUEL SANTANA
20 ANOS, VIOLINISTA
“Eu comecei a tocar piano e violino em uma iniciativa do maestro Joel Gonzaga em Bertioga. A convite dele fui para a Fundação quando estava com 11 anos. A transição foi bem fácil, porque o maestro é show de bola e eu já conhecia algumas pessoas. Na escola, sempre fui um pouco fechado. Desde criança, sofri bullying, por isso não me sentia muito à vontade. Mas a Fundação é um lugar agradável, que sempre me acolheu, aqui eu tenho a possibilidade de observar outros músicos para aprender. Sempre penso: se ele consegue, eu também posso. Os professores fazem o melhor e estimulam você a fazer o mesmo. A música foi a maneira que eu encontrei de expressar meus sentimentos sem precisar dizer uma única palavra. Quando eu fico bravo ou triste, busco algum instrumento para tocar. Quando tocamos, conseguimos expressar a dor, o sofrimento, a perplexidade, a música é um refúgio para mim.
A Fundação é um local onde temos a oportunidade de mudar nosso futuro e crescer em todas as áreas. Na minha vida pessoal foi fundamental, pois venci a timidez e me tornei uma pessoa mais responsável.
Hoje atuo em um projeto social com jovens da minha igreja e pretendo fazer um curso na faculdade que me leve a ajudar as pessoas.
A fundação abriu meus horizontes
VICTÓRIA SANTOS SILVA
19 ANOS, VIOLINISTA
“Eu comecei a tocar violino em uma iniciativa da Prefeitura no meu bairro, Boraceia. Quando acabou, fiquei um tempo sem fazer nada. Morando longe do centro, tudo parece um pouco mais difícil. Quando estava com 15 anos, uma professora me convidou para estudar na Fundação. O espaço é muito agradável e isso me fez ter mais dedicação à música.
A Fundação abriu meus horizontes e me fez crescer em vários aspectos.
Estou na orquestra há uns três anos e a gente participa de tudo, até sugere músicas para o repertório. Para mim, a entidade é um espaço de formação para a nossa vida, pois nela recebemos conhecimentos não só musicais, mas para a nossa conduta diária. A amizade que a gente forma aqui, o ambiente acolhedor, o zelo com que as coisas são realizadas e a maneira com que somos incentivados a trabalhar em conjunto fazem da Fundação um lugar muito especial. Eu pretendo fazer faculdade de Educação Física, mas continuar com a música em paralelo, porque ela é fundamental na minha vida.
Valorizo muito as amizades que fiz, todo o aprendizado e o conteúdo que recebi. A Fundação faz parte da minha história.”
Ambiente musical
JOÃO PEDRO DA SILVA FERREIRA
17 ANOS, VIOLINISTA
“Eu comecei a fazer aulas de violino em 2015, no Projeto Som do Bem, que é mantido pela Fundação no bairro Chácaras. Fui para acompanhar minha irmã, que ia estudar violão, mas não me arrependi de ter escolhido outro instrumento. Tocar é algo que gosto muito de fazer, despertou minha curiosidade. Sempre quero aprender algo mais. Depois que avancei nos estudos, a professora me mandou para a sede da Fundação na Riviera, onde passei a fazer parte da Orquestra. Teve uma época em que eu ia duas vezes por semana, um dia para a aula e outro para a orquestra.
Estudar aqui é muito divertido, o ambiente é diferente e, como tem música, acaba sendo um lugar muito especial. Nunca tinha tido contato com um instrumento antes do projeto e hoje não sei viver sem o violino.
O que aprendi na Fundação foi muito importante para mim. No fim de 2019, passei por uma seletiva e entrei para a Orquestra Geek, a orquestra de cordas mantida pela Prefeitura. De vez em quando, também toco em festas e casamentos e consigo ganhar um dinheiro extra. Hoje sou jovem aprendiz e trabalho como auxiliar de escritório. Uma vez por semana, ainda vou para a Fundação, mas chego tarde para o ensaio. Só consigo chegar às quatro e meia e o ensaio vai até as cinco. É ruim, mas tem que trabalhar, né? Eu quero ir para a faculdade e ainda
pretendo viver da minha música.”
A música faz parte de mim
GABRIEL CÂNDIDO GOMES
17 ANOS, SAXOFONISTA
“Estou na Fundação desde 2014. Comecei direto no curso de saxofone.
Eu era muito tímido, evitava conversar com as pessoas. Foi lá que aprendi a interagir e entendi que o grupo te ajuda a ir além. Gosto tanto da Fundação que convidei vários amigos da escola para ir estudar lá. Eles aceitaram e aproveitaram para aprender outros instrumentos.
Durante os cursos, passei a conviver com muitos alunos que tinham origem bastante humilde. Conheci as dificuldades que os outros podem passar sem que você se dê conta. Isso me surpreendeu bastante. Vi pessoas muito simples que enfrentavam dificuldades que eu nem poderia imaginar ser possível. Mas eu via nesses alunos muito foco. Eles tinham objetivos e iam atrás do que eles queriam. Isso me ensinou muito também. Com certeza fiquei mais focado vendo esses exemplos.
A Fundação é uma segunda casa para mim, que me auxilia no meu desenvolvimento pessoal e me ajuda a fazer novas amizades. A música foi muito importante porque me ajudou no raciocínio lógico. Hoje eu participo da orquestra. Nesse ano, concluo o ensino médio e estou pensando em cursar engenharia.
Sei que a minha rotina vai mudar, mas vou fazer tudo o que eu puder para continuar na orquestra. Já faz tanto tempo que eu toco, que
isso já faz parte de mim. Se eu ficar sem tocar, sei que não vai dar certo.”
Lições que ficaram para a vida
GERSON SANTIAGO
26 ANOS, PROFESSOR
“Frequentei a Fundação entre 2010 e 2014. Busquei as aulas de música para complementar minhas atividades relacionadas às artes cênicas. Aprendi tudo o que eu pude naquele tempo: violão, violino, percussão.
Também fiz cursos de atendimento ao cliente e de informática. Como eu venho de uma família muito humilde, as nossas condições financeiras eram difíceis. Por isso, o cartão de vale-transporte e violino que eu ganhei da Fundação potencializaram o meu foco em estudar para participar da orquestra.
Hoje sou pedagogo, professor da Escola Municipal Genésio dos Santos, e trago muito do que aprendi na Fundação. Por exemplo, uso a flauta doce
para que meus alunos façam ditados. Toco cantigas que sabemos de cor para que eles se lembrem das palavras e possam escrever. Quando meus alunos têm que se apresentar e ficam nervosos, eu me lembro do que acontecia na Fundação antes das apresentações. Sempre os tranquilizo para que não se cobrem muito. São lições que ficaram daqueles anos. A Fundação me fazia ter uma rotina longe da rotina do meu bairro e me obrigava a me planejar para estudar mais.
Isso me fortaleceu antes mesmo de eu entrar na faculdade. Os vínculos que criei foram muito importantes na minha formação. Se não tivesse passado por lá, talvez hoje não fosse professor.”